terça-feira, 28 de novembro de 2017

Dificuldade artificial (e intencional?) dos exames nacionais (ou de alguns deles?) como meio de angariação de fundos?

Hoje, um aluno interessado procurou-me para que lhe explicasse o conteúdo de uma solução de um exercício do livro «BIOLOGIA E GEOLOGIA, Questões de Exames Nacionais e de Testes Intermédios 2006-2017 (10º e 11º anos)», o qual tem escrito, bem visível na capa e na lombada, «Edição 2018», embora a 1ª edição seja de Outubro de 2017, uma sugestiva (e criativa!) ideia de actualização e antecipação…
Na contracapa está escrito que «Os conteúdos estão organizados de forma a permitir ao aluno dirigir o seu estudo para os temas e as unidades do programa».
Nada tenho contra as estratégias de negócio que, de forma transparente, prestem serviços úteis e de qualidade, particularmente se destinados à formação dos jovens. Mas defendo que é na Escola e com a ajuda e as explicações dos professores dos próprios alunos que eles devem ficar minimamente preparados sobre as matérias a aprender. Têm direito a isso, sem gastos por fora. E não compreendo como programas tão mal estruturados e articulados e desactualizados, de que talvez o pior exemplo seja o de Biologia de 10º ano, que mais parece ter sido concebido para impedir que os alunos aprendam e que os professores consigam ensiná-los,  permaneçam intocados, anos e anos, sem perspectivas de qualquer revisão. Revisão mais premente e necessária ainda face às sugestões e recomendações metodológicas neles contidas, as quais apontam explicitamente e invariavelmente no sentido da simplificação e da facilitação dos conteúdos. É tanto assim que os manuais em uso, feitos de acordo com os programas, insistem, em todos os exercícios que propõem, em questões muito simples, tão simples que, não raro, chegam ao ponto de serem insultuosas para a inteligência dos alunos. E não há no mercado manuais da disciplina com outra visão dos programas, todos eles, aliás, devidamente autorizados pelo Ministério da Educação.
No oposto surgem os exames nacionais de Biologia e Geologia, em desconformidade com os programas (absurda e escandalosamente desactualizados) a exigir um grau de conhecimentos, abrangência e capacidade de relacionação que só por milagre seria possível os alunos atingirem nas condições da nossa escolaridade (deixo agora de lado os erros dos próprios exames…).
Quando (eu) ensino quero e preciso saber quais são as referências e as balizas. De outro modo, saltando do programa para «tudo» o que com ele se relaciona ou aprofundando-o para além do que estipula, navego no escuro, arriscando-me a cumpri-lo mal e a não acertar no que vai sair nos exames. Por outro lado, recuso-me a «amestrar» alunos para os exames (vulgo «treinar macacos»), pelo que a minha função fica muito dificultada. E para grande parte dos alunos, a situação que existe redunda numa frustração tão cruel como desnecessária, causa de aversão (ou mesmo de ódio) actualmente e no futuro às ciências naturais.
Donde não se perceberem os objectivos. Para os professores, tão importante como a definição clara do que devem ensinar é a formação e actualização de que sempre precisam (e que não têm tido – por exemplo, eu não quero formação, aliás, inútil, para classificar exames, eu preciso dela para ensinar melhor os alunos). Na mesma linha, os alunos precisam de saber o que têm que aprender e têm todo o direito a serem bem ensinados.
Se entre os objectivos está a perspectiva de fazer negócio com a aflição dos alunos, então esses fins são ilegítimos e compete-nos tomar sobre eles uma posição de rejeição.
É o que devíamos ter feito quando o presidente do conselho científico do Instituto de Avaliação Educativa (IAVE) afirmou, como o fez João Paulo Leal, em Coimbra, em 16 de Maio de 2015 (conforme notícia do jornal «Público» de 17 de Maio de 2015, página 12), «que se podem promover resultados, em média, mais altos ou mais baixos, alterando simplesmente as cotações dos vários itens [questões] ou, então, uma ou duas questões em todo o exame. (…) a Português, por exemplo, se quero que haja notas altas é muito fácil. Pego numa ou em duas perguntas, substituo-as por outras, aparentemente semelhantes, e a minha expectativa em relação aos resultados dá um salto de cinco valores… Não é segredo para ninguém que as equipas do Iave que realizam os exames fazem uma estimativa de que resultados, em média, cada exame vai ter: Com uma diferença de mais um menos em valor em vinte, acertam em 95% dos casos, aquelas equipas conseguem fazer um exame para a nota que querem».
E depois disto, passados dois anos e meio, nada aconteceu. Tudo como dantes. Dá para entender?

José Batista d’Ascenção

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